O que você não escreve?

 Quando se fala em um veículo de imprensa independente, se fala de contra hegemonia. A imprensa, quando ética, representa por si só a contra hegemonia, e o Jornamenta, por esses dois fatores, também o faz. 
Faz uns anos que a atuação antiética de jornais molda tendenciosamente o meio no qual circulam e talvez a isso tenhamos nos acostumado. Vamos, então, ao básico: sem uma imprensa funcional não há democracia.
Aprendi e percebi essa frase recentemente. Acredito que a liberdade de imprensa nos é tão cara que raramente paramos para entender seu real valor. Neste ano, o famoso HQ “Maus” de Art Spiegelman foi retirado do currículo das escolas públicas de Tennessee, Estados Unidos, por conter “nudez e palavrões” e disso se conclui que estamos em um cenário de veto de livros, um cenário de apagamento de críticas e reflexões. A nossa conjuntura é essa.
Se não a imprensa independente, quem vai denunciar e contra-hegemonizar o ataque à própria liberdade de imprensa? 
O assustador é que essa ameaça não se encontra só lá em cima; constantemente desce de seu palanque mandatário e testa a temperatura da água entre nós, e relato, com firmeza, que a temperatura lhe está cada vez mais agradável.
A liberdade de imprensa por vezes é vetada dentro da própria redação e lhe faço as seguintes perguntas: o que você não escreve? A quais textos seus você direciona a autocensura e por quê? (Essas me faço constantemente).
Qualquer possibilidade de veto, qualquer autocensura e qualquer medo de escrita quando o que se escreve não é tendenciosamente falso (tradução correta do termo Fake News) é uma ameaça a o que defende a liberdade de imprensa e, portanto, à democracia.

Publicado no Volume 3, dia 25/07/2022.

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