Construindo uma revolução entre luta de bandeiras

 Dois anos de isolamento social nos cansaram. Mais de três anos de governo Bolsonaro - após dois anos temerosos - nos fazem questionar o que há pela frente. Gradualmente voltamos à vida comum, mas com muitas perdas. Mesmo com tudo, dia 09.06 nos mostrou que ainda existe força e vontade, vontade para proteger o que é nosso por direito, à custa de muito sangue e suor, conquistado. No entanto, como construir um coletivo forte e unificado, quando as lideranças ou aqueles que se propõem a liderar, colocam seus interesses de protagonismo à frente do coletivo e articulam a desmobilização?

No dia 02.06 o Diretório Central dos Estudantes (DCE), mesmo com seu imobilismo e falta de postura de liderança, convoca uma assembleia para mobilizar o campus contra os cortes e a PEC 206. O espaço é eclodido pelo Fogo no Pavio baseando-se em críticas ao DCE. Evidente que o espaço não era para aquilo, mas ocorreu. A assembleia foi esvaziada e adiada para o dia 07.06, devida a postura tomada e sugestão acordada. No dia 07, o que poderia ainda parecer uma manifestação de descontentamento com a atual gestão do Diretório se evidencia ter sido uma estratégia política de tomada de protagonismo que custou ao campus tempo de organização e sentimento de participação na tomada de decisões (uma vez que tais já teriam sido tomadas no CR-DCE). 

Com essas configurações, no próprio dia 07 é planejado um ato político para acontecer apenas dois dias depois (09.06) em combate às causas citadas, com ponto de encontro e concentração na Praça Ramos de Azevedo, logradouro que abriga o Theatro Municipal de São Paulo, entre 16 e 17 horas. Particularmente na última assembleia, não havia sido debatido se haveria algum trajeto a trilhar - afinal, atos políticos servem para demonstrar indignação perante a determinadas figurações no cenário político-social, de modo a promover passeatas nas quais fique totalmente nítido o descontentamento, promovendo impacto e visibilidade - nem qual seria esse trajeto - que teve início poucos minutos após as 18 horas. 

De fato, o brado estudantil estava bonito durante o percurso, porém logo foi silenciado com a chegada da chuva que estava prestes a cair (conforme a previsão metereológica do dia sinalizava). No momento em que a chuva apertou mais um pouco - muitos estudantes já estavam molhados -, foi possível visualizar um afastamento inesperado para as calçadas. De início, parecia uma atitude que visava esperar a chuva passar um pouco, mas logo foram concebidos a dispersão dos presentes e o fim do protesto político, cuja rota evidentemente reduzida apresenta seu término antes mesmo das 19:30, demonstrando o despreparo em relação ao enfrentamento do tempo chuvoso, ao mesmo tempo que contrasta com um dos gritos estabelecidos durante o caminho realizado: “Pode chover, pode molhar. Os estudantes não tem medo de lutar!”.

Desse modo, se faz necessária a abertura para a maior inserção e participação dos estudantes em relação às decisões tomadas no campus, nas assembleias, assim como o encerramento de disputas de ego em prol da união estudantil contra todos os descasos promulgados pelo atual presidente da República. 

O contexto pandêmico afetou significativamente as mobilizações de caráter político, sendo desta forma, imprescindível a retomada - mesmo que aos poucos - da ocupação numerosa das ruas pelas causas que acreditamos - e claro, tomando todos os cuidados possíveis contra a Covid-19 em qualquer espaço -, especialmente num ano de eleições em que se pretende tirar do comando um negligente genocida. 

É importante que os campus unifespianos estejam estreitamente conectados nessas lutas, sendo ainda mais ambicioso pensar num alinhamento de universidades federais em escala maior. Sem contar que o protesto do dia 09.06 precisa de uma continuidade, estando em atraso a definição de uma data para um segundo ato.


Publicado no Volume 1, dia 27/06/2022.


Escrito por Vinícius Trindade (História) e W. F. Soares (Pedagogia)


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